quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Não há escutas telefónicas? Só mesmo a revelação do seu conteúdo poderia esclarecer cabalmente o caso do apoio das empresas públicas... Claro que querer a manutenção no Porto é regionalista e primário, querer a transferência para Lisboa é nacionalista e secundário... Sempre os mesmos pobres de espírito... (PB)
Polémica gerada pela ida para Lisboa pode afastar Red Bull Air Race de Portugal
Jorge Marmelo (PÚBLICO) 4.12.09
A polémica ganhou asas, mas a etapa portuguesa da Red Bull Air Race em 2010 pode nem sequer chegar a levantar do chão. Segundo uma fonte ligada ao processo de negociação com a Câmara de Lisboa, o modo "regionalista e primário" como as instituições do Porto estão a reagir à transferência da prova para Lisboa, incluindo o apelo ao boicote dos patrocinadores, poderá levar a empresa austríaca a desistir de realizar a prova em Portugal.
"Parece que, no Norte, as pessoas preferem ver a prova em Espanha do que em Lisboa", lamentou aquela fonte, de acordo com a qual a transferência da corrida aérea para a capital não implica qualquer acréscimo da comparticipação do Estado. "Teoricamente, e tendo em conta os instrumentos disponibilizados a Lisboa para rentabilizar a prova junto dos patrocinadores privados, o apoio do Estado até pode ser inferior, uma vez que Lisboa é um palco capaz de atrair mais parceiros internos e externos", explicou.
"O Estado até está a dever dinheiro à organização", salientou aquele responsável, adiantando, por outro lado, que já em 2009 a prova esteve para não se realizar no Porto e em Gaia. "Aconteceu tudo o que não devia acontecer num evento como este. Há um problema com IVA não pago ainda relativamente a 2008 e há agora uma nova dívida de um milhão de euros", disse aquela fonte, que não esclareceu se a origem desta dívida são as autarquias, o Turismo de Portugal ou o promotor privado contratado pela Red Bull.
De acordo com este responsável, a Red Bull sempre teve Lisboa na mira e só optou pelo Porto devido à confusão em que, há três anos, estava mergulhada a autarquia da capital. Dadas as dificuldades existentes no Douro, inclusivamente técnicas - os aviões voam cada vez mais depressa e, por isso, seria praticamente impossível voltar a utilizar a pista portuense em 2010 -, a empresa quis agora retomar o projecto original e, para tal, tomou a iniciativa de contactar a Câmara de Lisboa para o efeito, estando o acordo quase totalmente negociado com António Costa, que já teria dado conhecimento deste facto a Rui Rio há cerca de um mês.
"No próximo ano, vamos ter corrida em Nova Iorque, no Rio de Janeiro, em Marselha e, pela primeira vez, numa cidade africana. A Red Bull queria manter uma etapa em Portugal, mas, dada a repercussão da polémica, é possível que venhamos a optar por realizar a prova ibérica numa cidade espanhola", disse o responsável contactado pelo PÚBLICO.
Em causa pode estar, nomeadamente, o patrocínio do grupo PT através da TMN e o boicote anteontem defendido pela Associação de Comerciantes do Porto. A TMN, recorde-se, patrocinou a prova nos últimos dois anos, tendo ontem negado qualquer envolvimento na escolha da localização da Red Bull Air Race. "A TMN lamenta as declarações e desmente o seu envolvimento na escolha da localização futura desta prova, uma vez que nem é parte ouvida nessa decisão", declarou uma fonte da empresa citada pela Lusa.
Também em declarações à agência Lusa, o presidente da Associação Comercial do Porto, Rui Moreira, considerou que a polémica gerada pode levar as empresas patrocinadoras a abandonarem a prova. "E aí nem vêm para Lisboa nem para o Porto. Vai-se acabar por estragar isto tudo e não faltam cidades na Europa interessadas", alertou Moreira, que exortou o Turismo de Portugal a prestar esclarecimentos sobre o caso. "Os patrocinadores são livres de fazerem o que entenderem, mas o que me interessa mais é a questão dos dinheiros públicos", disse.
Mais veemente foi o PSD/Porto que, em comunicado, acusou "o Governo do Partido Socialista" de "extorquir" o Porto e o rio Douro. Considerando que a região e o combate às assimetrias regionais estão a ser desprezados, os sociais-democratas manifestam-se "solidários com as inúmeras manifestações que pessoas e instituições da cidade produziram", nisto incluindo o apelo ao boicote aos patrocinadores do evento.
A Associação Portuguesa de Hotelaria, Restauração e Turismo (Aphort) fez ontem saber que enviou uma carta ao secretário de Estado do Turismo, Bernardo Trindade, dando conta da "apreensão" com que têm sido recebidas as notícias dando conta dos esforços do Turismo de Portugal para levar a corrida para Lisboa. Em comunicado, a Aphort considera que, a serem verdadeiras, as notícias "demonstram as dificuldades que a Câmara Municipal de Lisboa tem em competir com cidades europeias da sua dimensão, bem como uma surpreendente crise de criatividade e inovação". "Neste âmbito, o apoio, directo ou indirecto, do Governo de Portugal a esta iniciativa será, sob todos os aspectos, incompreensível, na medida em que irá implicar um favorecimento de Lisboa à custa de outras regiões do país", afirmam os empresários hoteleiros, que dizem esperar, neste período conturbado, "receber do Governo um sinal de esperança e não de angústia".
Depois da tomada de posição da TMN e da EDP, que se tinha já demarcado do patrocínio a qualquer evento motorizado, também a Galp garantiu ontem que "nunca foi" patrocinadora da Red Bull Air Race nem planeia vir a ser, pelo que "não faz qualquer sentido" a ligação do seu nome a alegadas intenções de transferir o evento.

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