domingo, 29 de novembro de 2009

Da corrupção e da sua percepção
(DN) EDITORIAL Em Portugal há a percepção de que os corruptos ficam impunes. Uma percepção partilhada pelo mais comum dos cidadãos e também, infelizmente, pela maioria dos envolvidos em actos de corrupção: uns porque continuam a achar que uma cunha ou uma ajudinha não faz mal a ninguém; outros porque apostam nos milhares de diligências processais da justiça para ver os seus casos prescritos ou arquivados. A verdade é que a realidade dá razão a esta visão: continuam a contar-se pelos dedos das mãos os condenados a penas de prisão efectiva por crimes de corrupção e a maioria dos casos envolvendo figuras conhecidas continua sem decisões, envolvida nas malhas complicadas da justiça.
O caso "Face Oculta" trouxe à discussão, de novo, o tema da corrupção. Por demérito e não por mérito, sublinhe-se. Mas o assunto domina a discussão pública e também política, sucedem-se as propostas partidárias para tornar real o pacote Cravinho, abandonado em tempos numa gaveta sem fundo.
Só que não é de mais leis que o País precisa, que as há de sobra, é de melhores leis, de leis mais claras e da sua aplicação sem rodeios. Mas precisa também de uma maior moralidade da vida pública e de quem nela ocupa os mais altos cargos: porque, se ninguém deve colocar em causa a presunção de inocência a que todos temos direito, também não deixa de ser verdade que há suspeitas que deviam ser impeditivas para certas funções em empresas do Estado. Ou, como diz também o general Garcia dos Santos de forma pragmática, é preciso que rolem cabeças. Pela credibilidade da vida pública e pela credibilidade na justiça.

Sem comentários: