terça-feira, 6 de outubro de 2009

Um Frei Tomás "diferente"
(JN) 6.10.09
Programas partidários são literatura de ficção sempre instrutiva. Sobre o que proclamava o anterior programa do PS e o que o PS fez no Governo já o moralista Louçã disse tudo.
E, porque também disse que o BE é "diferente", deu-me para ler o do BE. Inclui um capítulo inteiro dedicado à "promoção do respeito pelos animais", onde, entre outras belas declarações, se defende o "fim dos 'rodeos' e das touradas de morte e à vara".
Conheço gente que mudou o seu habitual sentido de voto e votou BE só por causa deste capítulo, amplamente divulgado pelas associações de defesa dos direitos dos animais.
Só que na "zona libertada" bloquista de Salvaterra de Magos se fazem 'rodeos' e a presidente da Câmara do BE ("um exemplo", como a classifica Louçã) afirma-se a favor não só de 'rodeos' mas também dos touros de morte.
A autarca modelo e recandidata do BE é ainda "exemplo" daquilo a que o mesmo Louçã em tempos chamou de "candidatos--bandidos", isto é, candidatos arguidos ou condenados em processos-crime…
A "diferença" do BE é, afinal, ser mais exigente com o cumprimento dos programas alheios do que com o seu.
Comentário PB
A promoção dos direitos dos animais implica o fim de todas as touradas onde os animais são seviciados cobardemente para gáudio da paranóica estupidez pública, tal como propugnámos no Parlamento em 1997, e não apenas as referidas no programa do BE.
O BE tem na obsessão de ter uma camarazinha um sinal terrível de oportunismo político que no seu caso é mais grave do que em qualquer outro: é que o BE acaba por mostrar aquilo que não podia mostrar porque não podia ser: igual aos outros. Nada pior para quem se tem pretendido caracterizar exactamente por ser diferente. A Câmara de Salvaterra de Magos, de uma trânsfuga da CDU em trânsito por problemas com o partido e a justiça, tem feito e continuará a fazer ao BE perder muitos milhares votos a nível nacional. Porque sendo certo que no melhor pano cai a nódoa, aqui ela é tão visível e tão persistente que só a nódoa se vislumbra.
Ainda por cima, esta imensa e repelente nódoa acresce a uma outra advinda com a participação na unanimidade da vergonhosa votação sobre o financiamento dos partidos, a que apenas se opôs o deputado António José Seguro e teve o veto (desta vez divinamente inspirado!) do Presidente da República.
O BE deverá certamente caminhar para evoluir da ética da convicção para a a da responsabilidade, na conceptualização de Max Weber, moderando o seu programa e tornando-o exequível no quadro constitucional ou, pelo menos, no quadro de uma democracia que além dos mais diversos figurinos consagre a representação popular. Mas tem de saber que a sua razão de existir é a diferença em relação aos outros quatro partidos. O que se esvai inteiramente com este tipo de oportunismo. (Pedro Baptista)

3 comentários:

Anónimo disse...

Corretíssimo! É assim que se fala das outras forças de Esquerda, procurando construir um diálogo futuro. Só um diálogo desses é que pode devolver à Esquerda a Câmara do Porto. E só vejo o Pedro Batista a fazê-lo com insistência e coerência.

Sérgio disse...

Os defensore do BE não aparecem a atacar o artigo do Doutor Pedro Baptista? Bom, é sinal que afinal por aqui não andam bloquistas.

Anónimo disse...

Não aparecem porque têm vergonha.