sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O deputado envergonhado
(JN) 23.10.09
A minha personagem favorita da novela mediática em que se tornaram as acusações de Saramago aos "maus costumes" do Deus bíblico é o deputado europeu do PSD Mário David que, aí vendo sofregamente a oportunidade de gozar os seus 15 minutos de glória, resolveu enfrentar o Nobel munido apenas da funda do católico-patrioteirismo.
David quer que Golias renuncie à nacionalidade portuguesa, pois quem não é por Deus e pelo Benfica não é bom português nem bom chefe de família. A pequena e saloia pátria do deputado confunde-se com o quintalório das suas crenças e não vai além da cerca do catecismo e do portão em ruínas do "Deus, Pátria e Família". David é, porém, um homem civilizado e não corre com os intrusos à espadeirada como D. Afonso Henriques com os mouros nem de tição na mão como D. Manuel com os judeus. Pede-lhes delicadamente que saiam pelos seus próprios pés. O problema é se eles, como parece que acontece com Saramago, não quiserem sair. Irá o deputado, que "tem vergonha de ser compatriota" do Nobel, despedir-se ele, com justa causa, de ser português? Seria uma perda incalculável para o país.

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