sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Verba prometida chega para linha nova do Pocinho a Barca de Alva
Carlos Cipriano (Público) 28.8.09
É um investimento de luxo, bastante superior ao estritamente necessário para voltar a pôr os comboios sobre os carris entre Pocinho e Barca de Alva. Com os 25 milhões de euros anteontem anunciados pela secretária de Estado dos Transportes, mais do que reabrir a linha, trata-se de construir uma nova no traçado da anterior, com travessas de betão, carris soldados e, sobretudo, o reforço e consolidação dos taludes, túneis e pontes. Tudo isto permitirá velocidades da ordem dos 80 km/hora, o que é bastante mais do que os 30 km/hora a que os comboios circulavam quando a linha foi encerrada. Mais: o troço reaberto ficará até em melhores condições do que a actual linha do Douro entre a Régua e o Pocinho.
Faz sentido então a pergunta: para quê gastar tanto dinheiro, quando se prevê apenas uma exploração turística, certamente não diária, e para composições lentas onde o objectivo é a fruição da viagem? Porque existe a "ambição" de que a linha do Douro volte a ter passageiros e também mercadorias até à fronteira espanhola, e para além dela se Espanha decidire entretanto reabrir a sua parte entre La Fregeneda e La Fuente de San Esteban (Salamanca).
E, se assim for, este eixo ferroviário poderá ser uma "ligação à Europa", como referiu ontem ao PÚBLICO a secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino.
Esta "ambição" contrasta, no entanto, um pouco com a cautela com que o projecto é apresentado, já que exige a garantia de retorno com comboios turísticos em número superior aos que hoje circulam entre Régua e Pocinho (cinco comboios regulares em cada sentido e serviço turístico pontual no Verão entre Régua e Pinhão). Arranjar quem queira explorar a futura linha é tarefa da CP. Enquanto incumbente do serviço ferroviário a quem cabe a exploração das linhas, é esta empresa que vai lançar um concurso público internacional para concessionar o troço Régua-Barca de Alva para fins turísticos. Um concurso ao qual ela própria não se pode candidatar por ser a concessionante, apesar da sua experiência com os comboio a vapor do Douro e em outros serviços turísticos.
O protocolo - a ser assinado pela Refer, CP, CCDR do Norte, IPTM, Governo, municípios e outras entidades - identifica ainda algumas empresas que poderão estar interessadas em concorrer - Arriva, Barraqueiro, Transdev, Douro Azul, companhias vinícolas do Douro, agências de viagens e a espanhola Alsa. E para que a concessão não tenha de esperar pela realização das obras de reabertura, o concurso prevê que a entrega a privados da exploração turística se possa realizar em duas fases: uma entre Régua e Pocinho, que pode começar imediatamente, e a outra do Pocinho à fronteira, quando a linha estiver terminada.
Se não houver interessadas, restará à CP encontrar parceiros e efectuar o serviço turístico sozinha. Para já a empresa não está empenhada na exploração comercial daquele troço devido à desertificação da região e ao facto de as estações se situarem longe das localidades que servem (Foz Côa, Castelo Melhor e Almendra). Mas, tendo em conta o previsível bom estado em que ficará a infra-estrutura após o investimento de 25 milhões de euros, os custos de prolongar os comboios regulares do Pocinho a Barca de Alva seriam quase marginais.
O PÚBLICO fez as contas para saber quanto custaria à CP uma viagem de ida e volta no troço a reabrir com uma automotora diesel. Com base no directório de rede da Refer, a CP teria de pagar 101,36 euros de taxa de uso (portagem ferroviária), mais 45 euros de combustível, 20 euros para um operador de circulação e 18 cêntimos pela utilização da estação de Barca de Alva, o que perfaz 166,54 euros por cada comboio. Se cada bilhete de ida e volta custasse 4 euros, a transportadora pública necessitaria de ter um mínimo de 42 passageiros por comboio, que é um valor muito acima da média dos que circulam entre Régua e Pocinho.
Há que ter em conta, porém, que com uma linha nova os tempos de percurso seriam inferiores e, com boas ligações à Régua e ao Porto, a linha do Douro ganharia competitividade face à actual alternativa rodoviária. É que, em 1987, quando a linha foi encerrada, de Barca de Alva ao Porto demorava-se 5 horas e 39 minutos, mas com a reposição do troço em falta e as obras de modernização previstas entre Caíde e Marco, a mesma viagem poderá ser feita em 3 horas e 20 minutos.

5 comentários:

M. Araújo disse...

Começo a ouvir o governo a falar do Douro e isso agrada-me. Parece que finalmente alguém percebeu que são estas estruturas que solidificam a solidariedade Nacional. Pode até não dar lucro a reactivação desta linha mas o que se ganha difundindo a mensagem de que os que lá vivem e trabalham, não estão sozinhos e que os meios estão ao seu alcance, sobrepõe-se ao simples objectivo económico. Depois haverá que criar a sua dinamização com ofertas de roteiros turísticos e nisso o Douro é privilegiado dispondo de belíssimas paisagens, de rica gastronomia, produção dos melhores vinhos de mesa do mundo e do famoso vinho do Porto, assim como de um rio que é sem sombra d dúvida um pródigo da Natureza.
Fico contente ao ver reconhecido esse direito à Região do Douro pelo qual sempre me bati. Há pequenas arestas a limar entre as quais saliento a incompetência de agentes nomeados pelo Governo que tanto prejuízo provocam e tantos erros cometem no exercício da missão que lhes foi inexplicavelmente confiada. Autênticos aselhas que o Douro, Região e rio querem ver a milhas.

Anónimo disse...

É uma obra essencial para o Norte, um pqasso de gigante para o velho sonho de Porto-Salamanca. Mas que credibilidade tem esta senhora para vir fazer promessas destas a 30 dias da votação. Nem ela nem ninguém. Depois de Barroso garantir que não subia os impostos, e fazer a MFL subir o IVA para 19% muito criticado pelo PS, depois de Sócrates garantir o mesmo e subir para 21%, que crédito pode ter esta gente completamente ferida de asa em matéria de crédito politico?
Mas é bom que a ideia venha para a Ribalta... Todavia, com esta gente ou parecida, nada será feito fora do Terreiro do Paço, a não ser dar cabo dos rios do Norte para dar energia ao país.

Fernanda M. disse...

A Ana Paula Vitorino é uma tanguista. Já prometeu tudo e mentiu sempre. É tudo farsa eleitoral.

Anónimo disse...

Nem a linha do Tua aguentam quanto mais a Barca D'Alva. Era bom mas tudo cheira a palha eleitoral. Há eleições daqui a um mês.

Unknown disse...

Pareceu uma história como aquela da letra do Conchas dos anos 60: Sonhos...