segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Alegre arrasa propostas de Ferro Rodrigues
JOÃO PEDRO HENRIQUES (DN) 17.8.09
Tal como a direcção do PS, Manuel Alegre também não gostou de ver Ferro Rodrigues advogar alianças dos socialistas com o PSD, caso vençam as eleições sem maioria absoluta. "É uma forma de contribuir para o aumento da abstenção", diz o ex-candidato presidencial, para quem o que está em causa é uma escolha entre o PS e o PSD e não "um governo dos dois"
Não foi apenas a direcção do PS que ficou desagradada com a entrevista de Ferro Rodrigues ao Expresso em que o ex-líder socialista sugeriu, caso o seu partido vença sem maioria absoluta, uma eventual reedição do "bloco central" (aliança de governo entre o PS e o PSD). Manuel Alegre também leu e também não gostou.
O agora quase ex-deputado começou por desvalorizar ao DN o facto de Ferro Rodrigues ter considerado que, antes de ponderar uma aliança com o PSD, o PS devia, caso vença as legislativas sem maioria absoluta, tentar primeiro um entendimento com o PCP e o Bloco de Esquerda.
"Ferro Rodrigues sabe tão bem como eu que nem o PCP nem o Bloco de Esquerda querem qualquer coligação com o PS", começou por dizer. Acrescentando: "E também sabe que a direcção do PS não quer nenhuma coligação com qualquer deles." Assim, no entender do ex-candidato presidencial, o que o actual embaixador de Portugal na OCDE (Paris) propôs "foi, em substância, um governo de bloco central".
"É uma proposta legítima mas de que eu discordo", prosseguiu Alegre: "Vem a destempo. O que está em causa é uma escolha entre um governo do PS e um governo do PSD. Propor um governo dos dois é uma forma de poder contribuir para o aumento da abstenção." "E para - concluiu - desvirtuar o sentido das escolha e do voto."
Anteontem, na sequência da entrevista do ex-secretário-geral do PS, a direcção do partido também se pronunciou. José António Vieira da Silva - que foi número dois de Ferro quando este liderou o PS (2002-2004) - disse que "qualquer especulação [sobre cenários governativos pós-eleitorais] é prematura". "Qualquer cenário só será avaliado quando se colocar." O discurso oficial da direcção do PS tem passado sempre (e já tinha sido assim nas legislativas de 2005) que especular sobre alianças pós-eleitorais só contribuiu para menorizar o objectivo da maioria absoluta.
Em Maio passado, José Sócrates comentou o cenário de um "bloco central": "Isso é tudo uma ilusão. O que está em jogo nas eleições legislativas é o dilema de sempre: ou as pessoas escolherão o que é o centro-esquerda (a política do PS), ou escolhem o bloco de política de direita. Isto é o que realmente está em jogo."
Quem veio aplaudir a intervenção de Ferro Rodrigues foi - sem surpresa, visto que já tinha defendido o mesmo - Paulo Pedroso, número dois na direcção do ex-líder socialista até ser preso preventivamente no âmbito do processo Casa Pia (Maio de 2003).
Escrevendo no seu blogue (bancocorrido.blogspot.com), Pedroso considerou que "o PS não pode deixar o PCP e o BE fugirem às responsabilidades perante o País que o seu peso eleitoral lhes confere". Isto porque "o mundo não está de molde a que Portugal possa ter um governo mendigo na Assembleia da República, nas mãos de coligações negativas e irresponsáveis".
Por isso - prosseguiu o dirigente socialista - "nem a coligação com o PSD se pode considerar um cenário impossível". É que, "antes de mais, os políticos têm que saber estar à altura das responsabilidades que os eleitores lhes vão conferir".

2 comentários:

Primo do Marco disse...

Era isto que o Ferro queria: que o PS se definisse quanto a acordos ou colgações pós-eleitorais.
E as reacções não se fizeram esperar.

Anónimo disse...

Se a inteligência fosse chuva este fazia disto tudo um deserto.