quinta-feira, 21 de maio de 2009

Quarenta anos depois
(DN)19 Maio 2009 Por Mário Soares

Se o PS não tiver maioria absoluta, a viragem que poderá ser útil fazer não é rumar ao centro nem, muito menos, à direita, mas sim à esquerda

(...)O chamado bloco central voltou a ser tema dos jornais nas últimas semanas, na perspectiva de mudanças e de incerteza quanto aos resultados da eleição do ano que corre. Como com o prof. Mota Pinto fomos os dois principais protagonistas dessa velha experiência, tão criticada mas com resultados tão positivos, estou à vontade para dizer alguma coisa sobre o assunto.
E começo por dizer que me parece absolutamente inoportuno esse debate e que não vejo razões válidas para repetir a experiência, em condições políticas e económicas tão diferentes das de então.
Inoportuno porque antes de qualquer acordo não se deve discuti-lo na praça pública, antes sequer de se conhecer o resultado das eleições. É pelo menos insensato.
Depois, porque as condições geopolíticas são completamente diferentes e não o justificam. A crise que vivemos agora é global e importada. E se sabemos alguma coisa do modo como a vencer é assegurando uma mudança de paradigma económico e social, como tenho dito e repetido. Políticas de esquerda, portanto: dignificação do trabalho, luta prioritária contra o desemprego, protecção social para os mais desfavorecidos, punição dos culpados, redução drástica das desigualdades, regulação da globalização, reestruturação das organizações financeiras internacionais, regresso aos valores éticos, etc.
Ora, sendo assim, se o PS não tiver maioria absoluta, a viragem que poderá ser útil fazer não é rumar ao centro nem, muito menos, à direita, mas sim à esquerda, que é o que o eleitorado espera, uma vez que a esquerda, no seu conjunto, continuará a ter uma maioria e, porventura mesmo, muito sólida. Então? Em democracia não se deve ir contra a corrente do eleitorado, mesmo que aparentemente haja divergências sérias numa parte dele...
Há outra razão ainda. Entre os dois líderes do bloco central havia sólidos motivos de entendimento, que se veio a transformar numa efectiva amizade. Por isso aguentámos quase três anos e superámos todos os imensos problemas - e cascas de banana - que nos foram postos debaixo dos pés, de ambos os lados... Está isso longe de ser o caso actual.

2 comentários:

Manuel Silva disse...

O Socialismo que ficou na Gaveta...era bom Agora.

Sérgio disse...

Resposta de Soares ao amigo Manuel da Silva:

- Olha pró que eu digo, não olhes pró que eu faço.