sábado, 11 de abril de 2009

Crise na construção civil vai deixar 59 mil sem trabalho
Sindicato diz que, a curto prazo, 20 mil pessoas juntar-se-ão às 39 mil já desempregadas
(JN) 11.4.2009 CARLA SOFIA LUZ
O número de desempregados entre os operários da construção civil do Norte do país pode subir para os 59 mil. O líder do maior sindicato do sector alerta que, a curto prazo, mais 20 mil juntar- -se-ão aos 39 mil já sem trabalho.
Albano Ribeiro garante que, se nada for feito para inverter esta situação, o aumento brutal do desemprego é inevitável. A crise afecta, sobretudo, os trabalhadores residentes do distrito do Porto e, em particular, dos concelhos de Gaia, de Matosinhos, de Marco de Canaveses e Penafiel. Sessenta por cento dos operários no desemprego são do distrito. A percentagem é semelhante para os 20 mil trabalhadores em risco de ficarem sem emprego a curto prazo.
Espanha já não é alternativa e a situação de insolvência de mais de uma dezena de empresas do sector no Norte atira os operários na busca desesperada por obras além-fronteiras. Até porque, assegura o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção do Norte e Viseu, cerca de 10 mil das 39 mil pessoas já sem trabalho não têm direito ao fundo de desemprego por falta de descontos para a Segurança Social.
"Tivemos 90 mil trabalhadores da construção civil em Espanha. Agora, só lá estão 45 mil e até Setembro vão todos sair. Não é apelativo vir para Portugal ganhar 450 euros por mês. Eles preferem procurar no estrangeiro onde podem ganhar dois mil euros mensais", sustenta Albano Ribeiro. Os novos destinos são Angola (África), Noruega, Suíça, Inglaterra e França (Europa), perante a convicção de que "Nicolas Sarkozy (presidente da República francesa) vai apostar forte nas obras públicas", continua.
O sindicalista assinala que 20 mil trabalhadores lusos emigrados em Espanha já partiram para Bourdéus. Porém, não tem dúvidas de que é preciso criar mais emprego em Portugal e que uma das principais alternativas é a aposta forte na reabilitação urbana, em especial no Porto. Também apela ao arranque célere das grandes obras públicas estagnadas por "motivo de alguns traçados ou expropriações". E acredita que a reabilitação do edificado fará mais pelo combate ao desemprego no sector do que o TGV.
"Deve ser criada uma linha de crédito para a reabilitação urbana de apoio aos senhorios e, depois, as casas devem ser vendidas ou alugadas a pessoas necessitadas, de acordo com os rendimentos do agregado familiar. Nós defendemos este tipo de intervenção em todo o país", propõe Albano Ribeiro, que, de pé e em frente aos Paços do Concelho do Porto, particulariza a situação de decadência do edificado da cidade.
Não é só pelo facto de grande parte dos desempregados do sector ser natural do distrito, mas também pela degradação dos prédios na Baixa e no Centro Histórico portuense. Apoiados por um engenheiro de construção civil, o sindicato realizou um levantamento do estado dos imóveis da cidade e concluiu que o Porto tem edifícios mais degradados do que Lisboa. "Há seis mil casas a precisarem de uma intervenção urgente. São necessários cinco trabalhadores para reabilitar cada casa. São 30 mil postos de trabalho faseados no tempo para recuperar estas seis mil casas", calcula.
O sindicalista, que solicitou uma audiência ao presidente da Câmara, Rui Rio, e não obteve resposta, entende que o autarca será responsável por qualquer derrocada que ocorra na cidade. Ainda mais que, entre os seis mil imóveis em mau estado, contam--se também prédios municipais.
"A Câmara deve dar o exemplo e começar por recuperar os seus próprios edifícios", atenta. O próximo passo do sindicato será solicitar reuniões aos deputados eleitos pelo Porto, na perspectiva de sensibilizá-los para a criação da linha de crédito.

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