segunda-feira, 9 de março de 2009

Famílias
(JN) 9.3.2009

1 - O objectivo de uma empresa privada é obter lucro. E a obtenção de lucro não serve apenas aos accionistas. É bom para os trabalhadores. Por outro lado, parte do lucro é muitas vezes usada para investimento. O que é bom para o país. E se é assim para qualquer actividade privada, por maioria de razão é bom perceber que também têm lucro empresas como a EDP e a Galp, que são privadas mas lidam com bens de interesse público e estratégico. Só que, sendo assim, é natural que nestas haja também um maior escrutínio público. Para perceber, nomeadamente, se o lucro se está a fazer à custa do interesse público. No caso da EDP e da Galp, que, mais do que lucro, conseguiram durante o ano passado aumentar os seus lucros, é natural que os cidadãos queiram mais explicações. Porque uma coisa é fazer reverter para os consumidores - empresas e famílias - os custos acrescidos das matérias-primas, outra bem diferente é ter comportamentos especulativos. E quando se percebe que, por exemplo, a Galp, no último trimestre de 2008, teve mais 200% de lucro que em igual período de 2007, fica-se com a sensação de que foi isso mesmo que aconteceu. Os consumidores foram enganados. O país ficou a perder.
2 - Durante os últimos anos, a CGD, um banco público, concedeu crédito a inúmeros empresários e especuladores, financiando as suas pretensões de controlo de um outro banco, o BCP. Fê-lo exigindo como garantia para os empréstimos as acções que foram sendo compradas. Acontece que essas acções valem hoje quase nada. E nenhum destes visionários tem agora como devolver o dinheiro que pediu emprestado. Colocando uma cereja no topo deste ruinoso negócio, a CGD decidiu comprar a um deles, Manuel Fino, um conjunto de acções numa outra empresa, a Cimpor. Mas pagou mais 25% do que o preço de mercado. E querem convencer-nos que foi um bom negócio. Resta lembrar que os dois responsáveis pelo financiamento público aos especuladores privados estão agora no BCP. Chama-se a isto fazer negócios em família. Para não lhe chamar outra coisa.
3 - Quando se ouve um dirigente do PS como José Lello defender que o partido tem de funcionar como uma família não pode deixar de se sentir uma certa emoção. Sobretudo quando se sabe que as organizações mais conhecidas por funcionarem como uma família têm sede em Nápoles e na Sicília. Claro que pode sempre supor-se que o deputado estará a pensar num exemplo que lhe é mais próximo, como o do Boavista, durante tantos anos liderado pela família Loureiro, com o prestimoso apoio do próprio José Lello. Com o resultado que se conhece. Quanto a Manuel Alegre, pois é ele que está na origem desta metáfora, mesmo já tendo percebido que não o querem para patriarca, hesita em pedir o divórcio. É de esquerda mas às vezes parece ter medo de não ter direito a pensão de alimentos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Certo Rafael Barbosa Família em política é máfia!Política republicana é país, povo, não família, não anda para cá, para os nossos.