quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Guerras com a Igreja assustam PS
Embora este tema "fracture" os nossos próprios apoiantes, declaramos já que, pessoalmente, estamos inteiramente de acordo com Sócrates na proposta pelo fim da discriminação dos "gays" no casamento. Pensamos mesmo que o PS devia ter votado favoravelmente o projecto que surgiu na AR nesse sentido, há uns poucos meses. Assim livrávamo-nos do ridículo de ter dito que não porque nos faltavam uns estudos e agora, meia-dúzia de meses depois, dizermos que sim sem exibirmos nenhuns estudos. E que tem o assunto a ver com estudos? Esperemos que a proposta seja séria e não para ser chumbada no Congresso e assim fazer um número. O PS sairía de tal "número" num estado lastimoso...
Identificamo-nos também com as palavras com que, em duas intervenções, Sócrates defendeu a proposta no Porto.
Quanto a nós, todos têm o direito de encontrar a sua maneira de serem felizes desde que, com os seus actos, não colidam com os direitos dos outros.
A Igreja Católica Romana faria bem melhor em reflectir sobre o facto de se ter mostrado atravessada pela pedofilia, do que continuar a expressar os seus mediévicos preconceitos sexuais. Mas se não capazes de parar de discriminar a mulher, nomeadamente vedando-lhe o acesso ao sacerdócio, se não capazes de acederem eles próprios, os sacerdotes, ao casamento, como podem pronunciarem-se sobre este tema social procurando convencer as pessoas de que a sua voz é ainda a voz de Deus! Ou como se alguém acreditasse em deuses que desejam o mal e o castigo para os que são diferentes?
Afinal o que será mais "contra-natura"? A diferença sexual dos homossexuais que constituem 10% da população, ou o mito da virtuosa castidade a que os padres católicos são obrigados? (PB)
(DN) 12.2.2009 JOÃO PEDRO HENRIQUES e RITA CARVALHO
Dirigentes do PS estão preocupados com os efeitos eleitorais negativos de um conflito do partido com a Igreja. A direcção de Sócrates insiste no casamento 'gay', mas travou ambições legislativas no campo da eutanásia. Igreja quer os crentes a votar "esclarecidos pelos princípios e moral cristãos"
A aposta do PS numa agenda política fortemente contestada pela hierarquia da Igreja Católica preocupa alguns dirigentes do partido, nomeadamente aqueles que operam nos distritos mais conservadores.
"Nada é indiferente, admito perfeitamente que possa ter influência [nos resultados eleitorais]", afirmou ao DN o líder do PS de Viseu, José Junqueiro, confrontado com os protestos da hierarquia católica face à proposta de José Sócrates para que na próxima legislatura (2009-2013) se legalize o casamento homossexual.
Renato Sampaio, presidente do PS-Porto, reconheceu também que nalgumas partes do seu distrito essa agenda fracturante "pode ter efeitos eleitorais".
Mais preocupado pareceu Rui Solheiro, líder dos socialistas em Viana do Castelo. "Não vai ser fácil", afirmou, referindo-se especificamente à questão do casamento homossexual: "Não vai ser fácil, mas o partido é que tem de saber se será um grande tema para a campanha." Solheiro parece querer que a questão passe para segundo plano nas eleições: "A crise económica e o desemprego serão os temas principais. Os restantes temas serão temas marginais.
"Ontem, após o debate Sócrates foi confrontado com a posição deixada na véspera pela Conferência Episcopal. Na altura já sabia da nota de clarificação emitida pelo seu porta-voz que continuava a referir o ano eleitoral, mas aliviava o tom. "A Igreja pede que os católicos votem na liberdade segundo a sua consciência, esclarecida pelos princípios e a moral cristãos."
Para os católicos os casamento gay são mais uma proposta que fere os princípios da Igreja. Ao DN, João César das Neves diz que "é evidente que o Governo afronta a Igreja com isto. Sabe que o faz, mas fá-lo mais por questões estratégicas e de jogo político. Porque quer resgatar eleitorado à esquerda e disfarçar as atenções da crise".
No entender do primeiro-ministro, a hierarquia católica sinalizou, com essa nota, que "não tem nenhuma intenção de dar indicação de voto". E isso, acrescentou, deixa-o "muito satisfeito". Seja como for, não são estas críticas que o farão recuar: "Devemos dar esse passo em nome do combate à discriminação", disse. "Todos seremos mais felizes e seremos uma sociedade melhor."
A cúpula do PS deu sinais de não querer sobrecarregar a agenda fracturante com outros temas, como a eutanásia, que um grupo de deputados socialistas vai propor ao congresso do partido que seja debatida publicamente.
Um deles, o presidente do PS, António Almeida Santos, admitiu ontem ao DN que a legalização da eutanásia "justifica um debate profundo sobre a matéria", mas afasta a ideia de um referendo nacional. No entanto, o antigo presidente da Assembleia da República admite que possa aparecer quem defenda um referendo no decurso do debate sobre a eutanásia.

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