quarta-feira, 13 de agosto de 2008

CP não tem comboios para responder à procura.

Andamos a sonhar com TGV e, para não falar da miséria de parte da rede ferroviária nacional, nem sequer se responde à demanda nos Alfa e nos Intercidades... E, pelos vistos, não se investe para resolver de imediato o que é preciso para as pessoas e para as mercadorias em nome do tal sonho de alguns (provavelmente também só no interesse de alguns...)
(Público) 13.08.2008 - 09h11Carlos Cipriano
Um pendular avariado pode afectar milhares de passageirosA CP Longo Curso, responsável pelos comboios Alfa Pendular e Intercidades, bateu um recorde de passageiros no mês de Julho, ao transportar 497 mil clientes (mais 11,1 por cento do que no período homólogo de 2007) e tem tido desde Maio um aumento continuado da procura no serviço de longa distância. Mas a empresa está nos seus limites em termos de oferta e precisa urgentemente de novos comboios, o que já está previsto há um ano, mas para o que ainda não obteve a imprescindível autorização conjunta dos ministérios das Finanças e dos Transportes e Comunicações.
A CP Longo Curso, responsável pelos comboios Alfa Pendular e Intercidades, bateu um recorde de passageiros no mês de Julho, ao transportar 497 mil clientes (mais 11,1 por cento do que no período homólogo de 2007) e tem tido desde Maio um aumento continuado da procura no serviço de longa distância. Mas a empresa está nos seus limites em termos de oferta e precisa urgentemente de novos comboios, o que já está prevista há um ano, mas para o que ainda não obteve a imprescindível autorização conjunta dos ministérios das Finanças e dos Transportes e Comunicações. A CP tem preparados os cadernos de encargos para comprar novas composições para Cascais e automotoras de serviço regional que podem também reforçar a oferta do longo curso, nomeadamente nas regiões do Alentejo e das Beiras. "Neste momento, andamos a fazer a exploração à pele", reconhece Cardoso dos Reis, presidente da empresa ferroviária. Dos dez pendulares de que a empresa dispõe, um fica sempre em manutenção, enquanto os restantes asseguram os serviços no eixo Braga-Porto-Lisboa-Faro em rotações que maximizam o número de viagens. Se algum se avariar, são milhares os passageiros afectados, não tendo a CP alternativas válidas e rápidas para colmatar estas falhas, porque o restante parque de material (locomotivas e carruagens) está praticamente todo a ser utilizado.
Recentemente, uma avaria na locomotiva de um comboio Intercidades deixou apeados centenas de passageiros em Faro, porque não havia material de reserva e o comboio teve de ser suprimido. Por outro lado, a empresa debate-se também com falta de capacidade das vias férreas, nomeadamente na linha do Norte. "Se quiser meter mais um comboio entre Lisboa e o Porto, tenho de incomodar os suburbanos e os regionais, porque não há capacidade na linha para introduzir para mais oferta", diz o presidente da empresa.
Para isso também não há solução no curto prazo, pois o Governo mandou rever as obras de modernização da linha do Norte e estas tardam em rearrancar. Tudo indica que não irão estar concluídas antes de 2012, havendo mesmo um troço (o que liga Ovar e Vila Nova de Gaia) que irá derrapar para depois dessa data.
Estas dificuldades da ferrovia portuguesa em responder à procura crescente pelo comboio têm sido utilizadas pelo Governo para justificar a urgência da introdução da alta velocidade, dado que a "coluna vertebral" da rede está congestionada, situação que também afecta o tráfego de mercadorias.
Sobre os picos de procura que se têm registado por parte do público o presidente da CP diz que são o resultado de uma nova oferta que inclui um comboio rápido de hora a hora entre Lisboa e o Porto e do aumento sazonal da procura para o Algarve, destino de férias de muitos portugueses, no Verão. Mas admite que há também factores exógenos à sua empresa que explicam este sucesso. "É evidente que o aumento dos preços dos combustíveis conta, pois quem pensa fazer uma viagem faz contas à gasolina e às portagens e acaba por escolher o comboio", diz. Cardoso dos Reis sublinha ainda a segurança, o conforto e a forma de viajar mais descontraída que o comboio permite por comparação com o automóvel. Constata também que a vulgarização do uso dos portáteis tem contribuído para acentuar a escolha pelo modo ferroviário, porque as pessoas podem usá-lo sem problemas para trabalho ou lazer (muitos passageiros vêem filmes durante a viagem).
A CP tem em curso um upgrade de oito carruagens para as poder pôr a circular a 190 km/hora (o que permite aumentar a marcha de alguns Intercidades) e espera libertar locomotivas do serviço de mercadorias para os passageiros, quando, em breve, entrarem ao serviço as novas máquinas da Siemens (fabricadas na Alemanha e montadas no Entroncamento) que se destinam à CP-Carga.Trata-se da última encomenda de material circulante da CP, que foi iniciada há quatro anos e da qual só agora se vêem as primeiras unidades.
Os concursos públicos demoram anos e a maioria dos ferroviários não entende por que demora o Governo a libertar 200 milhões para novos comboios. Um valor que consideram ser "trocos", quando comparados com os muitos milhões que se gastam em novas rodovias.Por isso, nos próximos tempos, a menos que compre comboios aos espanhóis (que os têm excedentários e em boas condições), a CP não tem nada de melhor para oferecer.

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