domingo, 20 de julho de 2008

A questão das torres

Com muitos pontos de acordo, a nossa opinião é diversa da do nosso amigo Rui Moreira; a reconstrução da Aleixo, sem torres, deve ser feita naquele próprio terreno e destinado às pessoas que lá se querem manter que são a grande maioria. Por nós, não haverá negociata. Todo o apoio aos manifestantantes da próxima terça-feira. De resto o filme é velho e relho, já o vimos inúmeras vezes entre nós e em todo o mundo.
E quanto aos espaços propiciados pela reconstrução no Centro Histórico (há-os realmente?), se não há pessoas interesssadas em ocupá-los, por que será?
(Público)20.07.2008, Opinião, por Rui Moreira
1. Já Nuno Cardoso defendia que o Aleixo só poderia ser resolvido através da implosão. Depois, quando Rui Rio foi eleito, o assunto ficou em águas de bacalhau até que se comprovou que as políticas aplicadas noutros bairros não vingam naquele modelo, que mais não é do que uma forma de "silagem" de pobres e indesejados em guetos verticais. Por isso, em Janeiro de 2007, Rio prometeu que apresentaria, antes do fim do mandato, uma solução para o bairro e confirmou-o, agora, com o anúncio de um concurso público para a escolha de um parceiro privado da câmara num fundo especial de investimento imobiliário. O que se propõe é uma permuta, em que esse fundo assume o encargo de realojar os moradores do bairro, a troco desses terrenos que estão numa localização privilegiada e terão, por isso, um considerável valor, depois de serem requalificados.
2. Apesar da actual debilidade do mercado imobiliário, é provável que haja interessados no projecto e será desejável que essa reabilitação seja articulada com a propriedade adjacente a sul, a antiga "Fábrica do Gás" que separa o bairro das margens do rio Douro, propriedade do Fundo de Pensões da EDP. Há uns três anos, foi apresentado, e logo recusado, um anteprojecto do arquitecto Pedro Ramalho para esses terrenos com mais de três hectares e 250 metros de frente para o rio. Agora, há condições para conceber uma solução urbanística integrada para toda a encosta, desde o rio até ao Campo Alegre.
3.Mas a questão do Aleixo não se circunscreve ao urbanismo e à arquitectura. O realojamento dos seus setecentos moradores é também um aspecto importante e sensível. Para a maioria destes, esta será a oportunidade de se libertarem da degradação e da violência quotidiana com que convivem, mas não faltará quem não se comova com a melhoria de condições que, seguramente, lhes será proporcionada. Para além dos saudosistas sinceros, que poderão ser seduzidos por uma boa alternativa, há também aqueles a quem a implosão não interessa. Sendo o Aleixo o maior supermercado de droga da cidade, não admira que quem disso faz o seu modo de vida tema que o realojamento afecte a prosperidade e impunidade do negócio. Seja como for, será preciso sensibilizar os moradores para as vantagens da dispersão e realojamento, garantindo que serão respeitados as situações pontuais que decorrem dos seus laços familiares e afectivos.
4. Anuncia-se que pelo menos 20% serão realojados no centro histórico, mas esse objectivo parece pouco ambicioso. Dado o número de casas devolutas que existem por toda a cidade, espera-se que a CMP não caia nas tentações de fomentar a construção de nova habitação social (que não deixará de replicar alguns dos problemas que existem no bairro) ou de se assumir como senhorio de todos os que vão ser realojados. Na medida em que o parque camarário será insuficiente, o fundo pode e deve suprir essa carência contratualizando o arrendamento com os senhorios de casas existentes, fomentando a sua reabilitação e assumindo o diferencial entre o justo retorno e o que os realojados pagam à edilidade.
5. Não faltará quem rejeite esta dispersão por temer que, através dela, os problemas do bairro alastrem à cidade. Percebe-se que quem vive no sossego não pretenda uma nova e má vizinhança, mas é preciso compreender que nem todos os que vivem no bairro são gente problemática. Na sua maioria, são eles as grandes vítimas, a que alguém chamou "escudo humano", da feira de droga que está instalada, diariamente, à sua porta e que se agravou com a politicamente correcta despenalização que transformou o bairro numa gigantesca sala de chuto a céu aberto. É acima de tudo por e para eles que o Aleixo deve ser demolido, porque são cidadãos que não podem ser escondidos, que não podem ser condenados a viver emparedados, que têm os mesmos direitos que nós temos à segurança, à paz, à tranquilidade e, naturalmente, a partilhar as nossas ruas e a nossa cidade.

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