terça-feira, 1 de julho de 2008

A fruta que não era fruta

(JN) 01.07.08
OTribunal de Instrução Criminal do Porto decidiu não levar a julgamento o presidente do F. C. Porto, no processo do "Apito Dourado" relativo a um jogo que os dragões disputaram, na época 2003/04, com o Estrela da Amadora.
O que estava em causa? Suspeitas de corrupção denunciadas por Carolina Salgado, ex-companheira de Pinto da Costa.
Enrolado como está o processo, este seria apenas mais um episódio da saga que entretém - e há-de continuar a entreter - os portugueses que tendem a ver em Pinto da Costa a encarnação do mal. A verdade é que este foi um dos casos em que a equipa de Maria José Morgado - a nova salvadora do país - mais investiu. Porquê? Por conter em si elementos suficientes para entreter o povo.
Não seria delicioso apanhar o presidente do F. C. do Porto num processo (que já fora arquivado por falta de provas) em que o Ministério Público sustentava que teriam sido fornecidas prostitutas à equipa de arbitragem e que lhe teria sido propiciado um jantar como contrapartida por violação das regras de jogo? Seria delicioso. Porque estava lá tudo: o submundo da prostituição ligado à troca de favores; fartos jantares para, no meio de gozosas risadas, comemorar as tropelias; árbitros ansiosos por passar uma noite de arromba com companhia... Enfim, a prova provada de como Pinto da Costa e o F. C. Porto driblavam as regras para alcançar o sucesso.
O que entendeu o juiz que ontem decidiu arquivar o processo? Isto: "só ficcionando ou conjecturando" seria possível encontrar "nexo de causalidade" entre os factos. Isto é: entre o resultado obtido pelo F. C. Porto na partida com o Estrela e a "fruta" não há relação possível.
Mais. Mesmo do ponto de vista técnico, o juiz entendeu que não houve violação de regras no jogo FC Porto-Estrela, de acordo com as perícias, designadamente em lances capitais. E mais ainda: o magistrado afirmou que as escutas realizadas no âmbito do "Apito Dourado" não poderiam ser consideradas para este processo específico.
As críticas à equipa liderada por Maria José Morgado são severas. Se um juiz entende que não há qualquer "nexo de causalidade" entre os factos, isso só pode significar uma de duas coisas - ou a investigação foi mal feita, ao ponto de não fornecer matéria de facto para a acusação; ou a acusação estava previamente determinada, independentemente dos factos que viessem a apurar-se.
Seja como for, quando um magistrado dá uma pancada deste tamanho num processo tão mediático, a última coisa que podemos fazer é ficar descansados com a Justiça que temos.

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