domingo, 13 de julho de 2008

Aos cem anos, O TRIPEIRO quer continuar a ser útil ao Porto

13.07.2008, Jorge Marmelo (Público)
"Tripeiro, s. m. vendedor de tripas; alcunha dos naturais do Porto." O dicionário da Porto Editora não engana, mas oculta alguma coisa. Não diz, por exemplo, que O Tripeiro é também o nome de uma revista que este mês comemora cem anos de existência e que é, em Portugal, única no seu género. Nem explica de que modo os portuenses passaram a ser tripeiros. Uma e outra coisa, porém, poderá ficar a saber-se no domingo, dia em que será posto à venda o número comemorativo do centenário de O Tripeiro, o qual inclui vários textos evocativos da longa história da revista e um artigo explicativo da lendária conversão dos habitantes do Porto às tripas.
Criada em plena efervescência republicana, por Alfredo Ferreira de Faria, para ser um "repertório de notícias portucalenses antigas e modernas", O Tripeiro vive hoje, cem anos depois, aquela que é a sua sétima vida - como se de um gato se tratasse.
A publicação inaugural data de 1 de Julho de 1908, mas a edição foi interrompida em 1911, 1913, 1919, 1931, 1960 e 1972, tendo sido retomada outras tantas vezes, a última das quais em 1981, altura em que passou a ser propriedade da Associação Comercial do Porto (ACP).
Há três anos, a associação apostou no refrescamento da revista e deu-lhe um novo rosto. A alteração, porém, não se resumiu ao aspecto gráfico: a publicação passou a ser editada por Luís Costa, ex-director adjunto do PÚBLICO e actual director da RTP-Porto, e a contar com um novo naipe de colaboradores, dedicando-se, por exemplo, à investigação produzida pelas instituições científicas e universitárias da cidade.
"A revista é hoje mais parecida com aquilo que foi no início do que era há vinte anos", assevera Rui Moreira, o actual director. Isto, diz, é o que facilmente se perceberá quando, a partir de hoje, se vir o número inaugural, cuja edição fac-similada será distribuída com o número de Julho d'O Tripeiro."O Tripeiro estava transformado numa revista de história, voltada para o passado. Quando a relançámos, em 2005, quisemos voltá-la para o presente. Isso causou alguma descontinuidade e perturbação entre os antigos assinantes, mas não temos outra alternativa senão insistir nesta fórmula. Não podemos criar novos protagonistas para a cidade, mas podemos apresentar e divulgar aqueles que existem", explica o director e presidente da ACP.
Um dos objectivos para o segundo centenário da revista passa, aliás, segundo Rui Moreira, por repensar a relação desta com a Internet. "Pensou-se que poderíamos perder leitores se a revista estiver disponível na Net, mas temos que encontrar aqui uma solução que permita conquistar novos leitores", adiantou o director da publicação.
Moreira garante também que O Tripeiro procurará ser menos conservador e prudente na abordagem aos temas "modernos". "Até aqui, temos tratado as velhas lideranças, as pessoas do Porto com currículos bem estabelecidos, mas não sei até que ponto não podemos ser mais arrojados e abrir espaços para novos criadores e para as coisas novas que estão a aparecer na cidade", diz o director."Temos que criar as condições para que O Tripeiro possa continuar vivo por mais cem anos", disse Rui Moreira ao PÚBLICO. "Ou, pelo menos, que possa continuar enquanto for útil à cidade", acrescentou, garantindo que a responsabilidade de liderar um projecto centenário e tão emblemático como este não o apoquenta particularmente. "Sinto-me como um violinista a quem entregam um Stradivarius e que sabe que esse instrumento tem que ser tocado com alguma prudência e algum cuidado", explica.

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