segunda-feira, 26 de maio de 2008

Agricultores transmontanos voltam a utilizar força animal

Quem não se lembra daquele prestimoso Ministro das Finanças, Dr. Medina Carreira, que por alturas do governo PS-CDS ou do Bloco Central vaticinou a perspectiva que agora se desenha: a volta aos simpáticos burricos. Coitados dos animais, o que irão sofrer com a crise das obesidades e o novo código laboral...
(JN) 26.05.2008 Muitos agricultores de Trás-os-Montes estão a pôr de parte o recurso as máquinas, devido ao aumento constante do preço do gasóleo agrícola, e a ponderar o regresso ao uso de animais. Desde o ano passado que o combustível verde sofreu aumentos de 70 cêntimos para um euro, "numa proporção duas vezes superior aos aumentos do gasóleo normal", adiantou, ao JN, Abreu Lima, vice-presidente da Confederação dos Agricultores Portugueses (CAP). As subidas constantes aumentam o custo de produção. Actualmente, a maior parte da agricultura já é mecanizada, mas os velhos tempos da utilização de animais, como o burro ou o boi, podem regressar. Abreu Lima considera os "aumentos brutais". Os agricultores concordam. Luís Manuel, de Vimioso, pondera recorrer mais aos dois burros que os pais possuem nos trabalhos agrícolas, devido ao preço do gasóleo. O agricultor costumava fazer trabalhos agrícolas com o tractor para fora, mas deixou de o fazer porque já não é rentável. "Há menos de dois anos atestava o depósito de 50 litros com 12 euros, agora gasto 30 euros", contabiliza.
Feitas as contas, um burro ou um boi poderá dar menos despesas, uma vez que são alimentados com produção fabricada pelos proprietários, além de que algumas espécies, como o burro Mirandês, tem direito a subsídio à produção. João Preto, agricultor em Angueira, Vimioso, diz que actualmente a agricultura dá prejuízo. "Mais vale não fazer nada", desabafa. Só este ano, o agricultor desfez-se de três toneladas de batata que não conseguiu escoar. "Não vale a pena o que gastei para produzir", referiu.
Os que vivem junto à fronteira acabam por ir a Espanha abastecer, minimizando, assim, os gastos. Estes aumentos estão a criar situações de "enorme gravidade e imensa preocupação para os agricultores", sustenta, por seu turno, o responsável pela Confederação dos Agricultores Portugueses. "A maior parte dos agricultores da região tem idade avançada e não consegue uma agricultura competitiva, o que poderá piorar se a mecanização diminuir, acrescenta. São, de resto, cada vez mais os agricultores da região que estão a abandonar as máquinas, nomeadamente o tractor, e a recorrer aos animais, uma situação que o próprio Abreu Lima diz estar a presenciar. "Somos desafiados para ter competitividade, mas não nos criam as condições necessárias para isso", lamentou, ontem, no Dia do Agricultor, uma iniciativa que decorreu em Macedo de Cavaleiros.

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