quinta-feira, 10 de abril de 2008

FMI prevê adiamento da retoma portuguesa por pelo menos mais dois anos


O aspecto mais negativo da leitura do FMI é que continuamos com uma economia inteiramente dependente das flutuações exteriores, ou seja da tendência para o aumento ou diminuição das importaçãos dos outros países e, portanto, das nossas exportações tradicionais. Não se vislumbra que, nesta última meia-dúzia de anos, a situação se tenha invertido e tenhamos sido capazes de diminuir as importações e criar novos produtos que se imponham no exterior pelo seu novo valor acrescentado tendo ao mesmo tempo um papel dinamizador na economia. Por outro lado, este contexto torna ainda mais gravoso a subida colossal dos impostos sobre o consumo de 17% do IVA para 21% e depois para 20%, em meia-dúzia de anos, refreando a procura interna, agravando o endividamento pelo consumo e com resultados duvidosos no equilíbrio orçamental e no combate sustentado ao défice, na medida em que, ao ajudar a estagnação económica, contribuiu para a baixa da massa tributável e como tal para a recolha de impostos.

Nem poderia ser muito melhor uma vez que, mal-grado os muitos milhares de milhões que continuam a acorrer dos apoios europeus, não temos sido capazes, nem o centralismo tem desejado ou permitido, a potencialização dos recursos nacionais, principalmente nas vertentes territorial e humana. A capacidade de inovação continua, salvo honrosas excepções como o recente Cluster de Saúde, mínima e desprezada, enquanto a competitividade territorial interna pura e simplesmente não existe, na medida em que a macrocefalia da capital administrativo-burocrática não permite o desenvovimento de outros pólos susceptíveis de desenvolver uma competitividade entre as cidades semelhante ao que acontece em todos os países desenvolvidos europeus.

Somos cada vez mais um terreiro com um eucalipto no meio que tudo seca.

(Público)10.04.2008, Sérgio Aníbal
Depois de 1,9 por cento em 2007, os anos de 2008 e 2009 vão ser uma desilusão para quem está à espera de mais crescimento em Portugal. A culpa é da conjuntura internacional.
Com os Estados Unidos quase estagnados durante dois anos e a Europa a colocar um ponto final no período de crescimento acima do potencial, Portugal não conseguirá resistir a esta onda negativa e registará este ano um recuo para a mesma taxa de crescimento de 2006, adiando o objectivo de retoma, pelo menos, até 2010. Este é o cenário negro ontem traçado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) no seu relatório semestral e que constitui, até ao momento, a projecção mais desfavorável entre todas as instituições internacionais. Para Portugal, a concretizarem-se as expectativas do Fundo, a economia irá abrandar este ano para uma taxa de crescimento de 1,3 por cento, depois de ter registado uma aceleração de 1,9 por cento em 2007. Em 2009, poucas são as melhorias, com a economia a não conseguir mais do que uma ligeira aceleração para 1,4 por cento. Ficam assim muito distantes as previsões que são feitas pelo Governo, que está à espera de um crescimento económico de 2,2 por cento este ano e de 2,8 por cento em 2009. E ainda longe as previsões do Banco de Portugal de dois e 2,3 por cento, respectivamente. Mesmo os departamentos de research dos principais bancos portugueses, que já apontam para uma variação em torno de 1,8 por cento este ano, não assumem uma travagem tão forte da economia nacional. O que explica estas expectativas tão negativas do FMI? Em primeiro lugar, o facto de serem as projecções mais recentes. Nas últimas semanas, as notícias de um abrandamento forte acentuaram-se tanto a nível internacional como nacional, neste caso com um desempenho mais fraco nos primeiros meses deste ano de indicadores como as exportações, investimento ou confiança dos consumidores. No entanto, só isso não explica a diferença. Na terça-feira, o governador do Banco de Portugal assumiu que teria de corrigir em baixa a sua previsão de crescimento para Portugal este ano, mas colocou um limite nessa revisão nos 1,7 por cento de crescimento que o BCE (e portanto o Banco de Portugal) prevê para a Zona Euro.

O resto da explicação tem então a ver com o nível de degradação da conjuntura internacional de que as várias instituições estão à espera. O FMI mostrou ontem, com o relatório apresentado, que é neste momento a instituição internacional que espera um impacto mais negativo da crise financeira, quer nos Estados Unidos, quer na Europa. Como consequência, Portugal sai inevitavelmente prejudicado, seja por via do aperto no crédito, seja pela quebra da procura proveniente dos países principais clientes das suas exportações. Aliás, tal como acontece com o Banco de Portugal e do próprio Governo, o Fundo coloca a economia portuguesa, em 2008, a crescer a um ritmo muito próximo do que está à espera para a média europeia. No caso das previsões do FMI, o crescimento nacional fica apenas uma décima de ponto abaixo da média europeia. No caso do Banco de Portugal, uma décima de ponto acima. O problema está no nível de crescimento que é esperado para a própria Zona Euro. Mas o que é certo é que em ambas as projecções está implícita a expectativa de que Portugal resista ligeiramente melhor do que os seus parceiros europeus aos efeitos da crise. Para o FMI, o abrandamento de 0,6 pontos percentuais esperado para Portugal entre 2007 e 2008 é o terceiro mais moderado entre os 15 países da Zona Euro e, em relação às previsões para 2009, Portugal está incluído no grupo de quatro economias em que se espera uma recuperação. Como nota de optimismo, o FMI espera que em Portugal, apesar do abrandamento previsto, se consiga em 2008 e 2009 uma ligeira redução da taxa de desemprego face ao valor de 2007.

Sem comentários: