domingo, 23 de março de 2008

Piercings, tatuagens e... eleições distritais internas: a nossa opinião


A simples ideia de regulamentar a utilização que cada cidadão possa dar ao seu próprio corpo, numa sociedade civilizada e para mais democrática, é impensável. Donde a justeza, mais ponto menos ponto, da lei sobre o tabaco, que protege não o fumador cuja liberdade de fumar não está em causa nem carece de protecção, mas os terceiros que têm o direito a respirar um ar salubre.

Agora, quando as regulamentações vêm em nome de uma pretendida sanidade pública definida pelo Estado para cada um, inserem-se nas velhas pretensões dos que, ao contrário dos democratas, pretendem impor o estilo de vida de cada um, não demorando muito a virem a tecer loas ao ruralismo bucólico, a impor-nos um modelo físico nacional adestrado no deitar cedo e cedo erguer - quem sabe se para correr para o ginásio, numa palavra, a porem-nos a marcar passo a toque de caixa procurando tornar-nos cada um um dos que consideram que todos devemos ser.


O simples passar pela cabeça de alguém tal tentação totalitária entre as fileiras socialistas, como é o caso, entre outras, da parte do projecto de lei que se pronunciava sobre as regras a que se deveriam submeter as opções individuais dos cidadãos quanto a piercings e tatuagens, apouca e envergonha todo o partido.


No entanto, quando se verifica que o deputado que dá a cara pelo processo, parece nem saber muito bem por que razão está a fazê-lo, parecendo não fazer a mínima ideia da gravidade do atrevimento, do carácter subversivo do desarrazoado totalitarizante, nem tão-pouco das consequências práticas de um projecto de lei, de fiscalização felizmente inexequível e portanto inócuo, a coisa piora, não só no que diz respeito ao grupo parlamentar do partido como sobretudo quanto à dimensão ideológica e política do deputado.


Mas não fica por aqui. Se identificarmos o deputado do PS, com o mesmo que há uns poucos meses, logo saltou a escorregar na casca de banana que lhe lançou o PSD, quando apontou o sentido de proibir ou restringir as candidaturas independentes às autárquicas, impondo que os seus protagonistas estivessem pelo menos, desde há seis meses, fora do partido, o que é da mais evidente anti-constitucionalidade, então não parece um conjunto de actuações disparatadas e desgarradas, mas outrossim uma tendência intrínseca e endémica do próprio deputado para um proibicionismo psicológico e ideológico que não se compagina nem com os valores nem com a vivência democráticas.


Mas o pior ainda é para nós portuenses. É que nós próprios, ao termos o referido deputado como Presidente da Federação Distrital do Porto, embora a grande parte de nós não tenha culpa nenhuma, não ficamos nada bem na fotografia e fotografias e videos é o que mais tem aparecido durante toda esta malfada semana. Lá os temos com o sorriso displicente e o olhar cínico a dizerem que são "os gajos do Porto" - esses impagáveis de quem não se esperaria melhor.


E a verdade é que não temos muito para responder, considerando que o presidente ter este tipo de actuação é bem mais grave do que o coordenador dos deputados do Porto, que parece ser uma espécie de vice, proferir para um semanário lisboeta que, no seu supino entendimento, "o parlamento é o caixote de lixo da democracia".


Estamos bem representados, não haja dúvidas.


Eu não sei se me fica bem ou mal fazer estas críticas directas ao meu possível adversário (?) na disputa da liderança da Federação do Porto. Talvez fosse melhor resguardar-me, como alguns dizem, porque o simples facto de entrar neste diálogo já me diminui, sendo que a minha estratégia de campanha será sempre pela positiva, evitando a crítica pessoal ou caracterológica, como positivos são os meus objectivos, até porque nada de pessoal me move contra ninguém. No entanto, quando não se fala noutra coisa e o assunto persiste em tudo o que é coluna de opinião, não posso deixar de me demarcar deste tipo de actuação de pessoas que se assumem em lugares de responsabilidade no partido, sem terem preparação política para os exercerem.


Pensando bem, os grandes responsáveis por tudo isto ainda somos nós todos os militantes do Partido do Distrito do Porto. É por isso que urge que nos dêem a voz que nos pertence estatutariamente mas que, de forma incompreensível, continua a ser-nos sonegada. O que nos obrigará, em breve, depois das diligências infrutíferas encetadas junto ao Presidente do partido e outras instâncias há mais de um mês, a ter de tomar uma atitude pública, ou mesmo institucional, para que se efectuem as eleições para a presidência e para a Comissão Política da Federação, cujos mandatos terminam no próximo dia 6 de Maio e portanto, cujos processos eleitorais já deveriam estar, há muito, marcados e iniciados.


Estamos a fazer tudo para evitar vir a tomar uma posição de grande repercussão pública. Mas também, com o agravar de actuações que têm merecido o descrédito público como as acima referidas, a que se junta a incapacidade para a afirmação das necessidades da região e a inépcia para enfrentar os delicados problemas que se colocam ao PS/Porto Distrital na preparação das próximas autárquicas, a necessidade das eleições para mudar a presidência da Federação e a Comissão Política, assumem uma importância cada vez maior, não só por serem um imperativo legal como por assumirem uma grande urgência política.


Pedro Baptista

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