sábado, 1 de março de 2008

Mais reflexão sobre a tal "avaliação" tão polémica.

Ministra contradiz-se sobre ficha de avaliação

01.03.2008, Isabel Leiria (Público)

Os critérios de avaliação causaram polémica no Parlamento. Maria de Lurdes Rodrigues foi "mal informada", justificou o gabinete
Ao contrário do que a ministra da Educação declarou ontem à saída do debate parlamentar quinzenal com o primeiro-ministro, o conselho pedagógico do Agrupamento de Escolas Correia Mateus, em Leiria, ainda não se pronunciou sobre uma polémica proposta de ficha, que contempla a "verbalização" de críticas às mudanças ocorridas no sistema de ensino como um dos parâmetros de avaliação dos professores.A questão foi levantada no Parlamento pelo deputado do Bloco de Esquerda Francisco Louçã, para denunciar a forma como os critérios de classificação dos docentes podiam ser distorcidos pelo excesso de zelo de um presidente do conselho executivo da escola. No final do debate, Maria de Lurdes Rodrigues fez questão de esclarecer a posição do Ministério da Educação (ME). "Procurei informar-me sobre o que se passou. Aquela era uma pergunta de forma alguma aceitável e o conselho pedagógico já deliberou negativamente", disse, citada pela Lusa. "Felizmente [a pergunta] não foi aprovada porque não era bem formulada, não era correcta, não era passível de avaliar o sentido ético dos professores", reforçou.A declaração contradizia as informações publicadas na edição de ontem do jornal Região de Leiria e que indicavam que a reunião do conselho pedagógico em que as fichas de avaliação iriam ser discutidas só iria realizar-se a 12 de Março. A meio da tarde, questionado pelo PÚBLICO, o assessor de imprensa do Ministério da Educação admitiu que a reunião do conselho pedagógico ainda não tinha ocorrido e explicou que a ministra declarou o contrário porque "foi mal informada".A polémica ficha foi elaborada pelo conselho executivo da escola e, na componente "dimensão ética" do professor, inclui-se o seguinte parâmetro: "Verbaliza a sua insatisfação/satisfação face a mudanças ocorridas no sistema educativo/na escola através de críticas destrutivas potenciadoras de instabilidade no seio dos seus pares." "Esta situação tem de ser corrigida. É claro que é um caso, mas é um caso que envergonha o PS", criticou Louçã. Na resposta, José Sócrates insistiu que essa matéria é da responsabilidade da escola. Reconheceu, contudo, que, se esse é um critério de avaliação a escola, "agiu mal e o ME deverá chamar a atenção desse ponto".Visão diferente tem a presidente do Agrupamento de Escolas Correia Mateus que, em declarações ao jornal Região de Leiria, justificou a proposta. "Esse parâmetro vale zero", referiu Esperança Barcelos. Os outros que o acompanham - como o que afere a verbalização da satisfação ou insatisfação face às mudanças de "forma serena e fundamentada através de críticas construtivas" - é que serão valorizados de forma crescente, até à nota máxima. Ao mesmo jornal Esperança Barcelos esclareceu que quem é crítico da actual política pode ter nota máxima neste item. "Um colega crítico pode ter valorização máxima, desde que não crie instabilidade nos colegas e que nos órgãos próprios manifeste a sua opinião."Ministério rejeita critérioNo seguimento das declarações de Francisco Louçã, Esperança Barcelos enviou uma carta ao Parlamento, alegando que o deputado tinha dito várias "inverdades", retirando "do contexto específico" do documento algumas questões, cita a Lusa. "Fiquei envergonhado por ter havido uma fuga de informação que coloca a escola nesta situação e fiquei tristíssimo por ver uma proposta que nos faz recuar aos tempos de II República", disse ao PÚBLICO um professor da escola que não quis ser identificado, mas que acredita que a proposta irá ser chumbada no conselho pedagógico.O ME faz questão de sublinhar que "não há qualquer avaliação de desempenho em função do grau de adesão ou rejeição às políticas educativas." Compete ao conselho pedagógico aprovar os instrumentos de registo que as escolas estão a elaborar e que são fundamentais para a recolha da informação que vai estar na base da avaliação dos docentes. Com J.F.C.

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