domingo, 23 de março de 2008

Anadia: o que falta são médicos


E agora, depois do Carnaval do Dr. Piercing em plena Semana Santa, tratemos de saúde pública a sério. Reflectindo sobre a dimensão concreta das políticas... a única dimensão que conta, em política, ou seja, na boa governança.


(JN) 23.03.2008 Ivete Carneiro
Escassos dias depois de as urgências de Anadia terem fechado portas, uma criança morreu à porta do hospital, numa ambulância, apesar das tentativas do pessoal da Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER). O então ministro da Saúde defendeu-se garantindo que, se fosse atendida no hospital, o desfecho seria o mesmo, até porque a VMER estava mais equipada do que a defunta urgência. "Se eles tiverem na VMER um equipamento como este, oferecemos-lhe este", diz Rui Simões director clínico e ex-director das urgências do José Luciano de Castro. É a primeira das coisas mal explicadas. "O ministro nunca cá entrou", lamenta o médico, segundo o qual a unidade também não foi visitada pelos peritos que desenharam a nova rede de urgências e riscaram as novas instalações de Anadia em prol das envelhecidas de Águeda.

O que parece faltar ali são os recursos humanos. Eram todos contratados na Urgência cinco médicos de família ("A nossa função não é estar nas urgências", diz Manuel José Lebre, médico de família e director do centro de saúde local), seis ortopedistas (os mesmos contratados para a consulta externa do hospital, em que também são protocolados outros especialistas, à falta deles nos quadros) e cinco internos.

Uma das contrapartidas do protocolo proposto pelo ministro da Saúde e recusado pela autarquia era justamente a requalificação do hospital, dando-lhe mais especialidades e cirurgia. "Já temos", defende-se Litério Marques.

Outra incongruência em Anadia está nos meios complementares de diagnóstico. De acordo com o despacho que fechou a Urgência, têm que ser acessíveis para doentes que procurem a consulta aberta. Têm sido, mas, segundo José Paixão, nem sempre. Um idoso com costelas partidas, confirmadas depois num privado, foi mandado embora porque o médico da consulta aberta não pusera "Urgente" no pedido."A Urgência era essencial para a estabilização de doentes", dizem fontes médicas, que veriam com bom grado uma solução intermédia. Conscientes da falta de meios humanos para oferecer uma Urgência digna desse nome, deixam no ar uma sugestão aproveitar as instalações existentes e fazer do José Luciano de Castro a base de uma VMER. "Fica a meio caminho entre Coimbra e Aveiro. Ficaríamos com a emergência, que é o que mais preocupa, e daria conta de uma área mais rapidamente do que a VMER de Coimbra".Para já, ficam os números. A consulta aberta atende tantas pessoas quanto a antiga urgência, mas transfere menos para Coimbra.

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